Secretário de Trump afirma que é preciso "consertar" o Brasil e intensifica tensão comercial
Declarações do secretário de Comércio dos EUA colocam o Brasil no centro de uma crise diplomática, enquanto tarifas pesadas já impactam setores-chave da economia.
INTERNACIONAL


O secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, declarou que o Brasil precisa ser “consertado” para deixar de prejudicar os interesses americanos. A fala, dada em entrevista à NewsNation, ocorre em meio à política de tarifas agressivas do governo Trump. Além do Brasil, Índia e Suíça também foram citados como países que “precisam reagir corretamente” aos EUA.
As críticas chegam dias depois do encontro entre Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Ambos devem se reunir novamente nesta semana para discutir medidas comerciais.
Contexto essencial
Desde julho, quando Trump anunciou sobretaxas de 50% sobre produtos brasileiros, a relação entre os dois países ficou estremecida. O presidente americano argumenta que as tarifas são necessárias para proteger a indústria local e reduzir a dependência de importações.
O Brasil, já afetado pelas medidas, vê-se agora colocado no mesmo pacote de países que enfrentam novas barreiras comerciais, como Índia, Suíça e México. A crítica de Lutnick aumenta a pressão sobre Brasília, que tenta equilibrar a parceria estratégica com os EUA sem comprometer exportações vitais.
Os setores mais atingidos são os de aço, alimentos processados, móveis e itens industriais, que enfrentam dificuldade em manter competitividade nos EUA. Para os consumidores brasileiros, o impacto pode vir de forma indireta, com encarecimento de insumos importados e maior pressão inflacionária.
Empresas exportadoras já relatam incerteza em contratos e risco de queda de faturamento. Além disso, o mercado financeiro acompanha com cautela a escalada retórica de Washington, temendo efeitos sobre investimentos e acordos bilaterais.


Números e dados
- Desde agosto, produtos brasileiros estão sujeitos a sobretaxa de 50%. 
- A nova rodada de tarifas de Trump, válida a partir de 1º de outubro, prevê cobranças entre 25% e 100% sobre itens como medicamentos, móveis e caminhões pesados. 
- Estima-se que o déficit comercial dos EUA com a Suíça seja de US$ 40 bilhões, usado por Lutnick como exemplo de “desvantagem” americana. 
Enquanto Lutnick acusa o Brasil de adotar medidas que prejudicam os EUA, Trump tenta equilibrar críticas duras com acenos de diálogo. Na ONU, disse ter “ótima química” com Lula e sinalizou abertura para negociações.
No entanto, a retórica do governo americano preocupa diplomatas brasileiros, que enxergam risco de isolamento econômico caso não haja acordo. Nos bastidores, fontes do Itamaraty avaliam que o Brasil precisa defender seu espaço sem romper pontes com Washington, mantendo-se próximo de outros parceiros comerciais como União Europeia e China.
A atual política tarifária lembra momentos de protecionismo dos anos 1980, quando os EUA travaram disputas comerciais com Japão e países europeus. A diferença é que, agora, a escalada ocorre em um contexto de maior interdependência global, tornando os efeitos mais imediatos.
Para o Brasil, que depende fortemente das exportações de commodities e produtos industrializados, o desafio é maior: sem alternativas rápidas de diversificação de mercados, a economia pode sentir impactos prolongados.
Próximos passos 
O encontro entre Trump e Lula nesta semana será crucial para reduzir tensões. Espera-se que ambos discutam formas de flexibilizar tarifas ou encontrar contrapartidas em setores específicos.
Especialistas avaliam que, caso não haja acordo, o Brasil pode recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) para contestar medidas consideradas abusivas. O risco, porém, é prolongar a disputa em um cenário em que os EUA exercem peso significativo no comércio internacional.
As declarações de Howard Lutnick acendem mais um alerta para o Brasil em sua relação com os Estados Unidos. Se por um lado Trump fala em aproximação com Lula, por outro sua equipe reforça o discurso de pressão. O resultado prático dessa queda de braço pode definir não só os rumos da balança comercial, mas também a forma como o país será visto no jogo geopolítico global.
E você, acha que o Brasil deve endurecer sua posição ou buscar um acordo para aliviar a crise?


