Relatório da PF Aponta que Ex-Marido da Primeira-Dama Agia como Lobista em Governo no Tocantins

Em um novo e grave desdobramento da Operação Fames-19, um relatório da Polícia Federal (PF) aponta que Paulo César Lustosa, ex-marido da primeira-dama do Tocantins, Karynne Sotero, agia como lobista e intermediário em negociações fraudulentas no governo do estado. Trocas de mensagens obtidas pela PF revelam que Lustosa usava a "proximidade" com a ex-esposa e com o governador afastado, Wanderlei Barbosa, para pedir favores e direcionar licitações, em um esquema de desvio de recursos públicos que causou um prejuízo estimado em R$ 73 milhões.

A decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que afastou o governador e a primeira-dama por 180 dias, cita diretamente a atuação de Paulo César Lustosa. O ministro Mauro Campbell, relator do caso, aponta que a participação de Paulo César nas negociações fraudulentas era "garantida a partir de sua proximidade com a primeira-dama do Estado, Karynne Sotero, e com o próprio governador Wanderlei Barbosa Castro". Para a PF, Lustosa tinha "amplo acesso" à cúpula do governo e atuava diretamente no direcionamento de licitações para empresas da organização criminosa.

Mensagens e o Desvio de R$ 73 Milhões

O relatório da PF apresenta conversas que comprovam o suposto esquema de corrupção. Em uma das mensagens, Lustosa acionou diretamente o governador para que ele resolvesse um problema de pagamento com uma empresa de comércio de livros que tinha um contrato de R$ 3 milhões com o governo. Na conversa, Lustosa diz ao governador: "Nosso processo está dentro da legalidade, ele não quer nos pagar e quer que assinamos um termo de desistência". Wanderlei responde: "Amanhã vou olhar e mandar alguém acompanhá-lo para resolver". O contrato foi pago semanas depois.

O relatório também mostra uma conversa de Lustosa com sua filha, onde ele diz que precisa que a "mãe e Wanderlei ajeitem" as coisas para ele, referindo-se a um esquema de licitação. A polícia também encontrou conversas apagadas entre Lustosa e o governador, o que indica uma "manifesta proximidade" entre os dois. Lustosa recebeu R$ 1,3 milhão de empresas investigadas e fez saques de R$ 665 mil em dinheiro.