PF Revela que Favela no Centro de SP Era ‘Quartel-General’ do PCC e Cobrava Extorsão de R$ 100 Mil de Moradores
Em operação policial, o Ministério Público de SP e a Polícia Militar revelaram um esquema de tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e extorsão que se utilizava de movimentos sociais para blindar a comunidade contra ações da polícia.
NACIONAL


Uma operação deflagrada pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e pela Polícia Militar (PM) nesta segunda-feira (8) revelou que a Favela do Moinho, no Centro da capital paulista, funcionava como um "quartel-general" do Primeiro Comando da Capital (PCC). A investigação aponta que a facção não apenas controlava o tráfico de drogas na região, mas também extorquia os moradores em até R$ 100 mil por família. A operação, que prendeu nove pessoas, mostra como o crime organizado se infiltrou em movimentos sociais para blindar a comunidade e lucrar com a situação de vulnerabilidade da população.
A extorsão, o crime mais grave revelado na operação, se dava através de um acordo habitacional entre o governo do estado e o governo federal. O acordo, que visa remover as mais de 900 famílias da Favela do Moinho para a construção de um parque, previa que cada família teria direito a um imóvel de até R$ 250 mil. No entanto, segundo a investigação, a facção criminosa cobrava propina dos moradores para que eles pudessem dar andamento ao processo de reassentamento. As quantias exigidas chegavam a R$ 100 mil por família, e quem se recusasse a pagar sofria ameaças e represálias.
A investigação aponta que Alessandra Moja, irmã de um dos líderes da facção, Leonardo Monteiro Moja, era responsável por liderar a cobrança das propinas. Alessandra era presidente de uma ONG que representava os moradores e usava sua posição de liderança comunitária para influenciar as pessoas e reforçar a atuação criminosa dentro da favela.


A Favela do Moinho, que funcionava como uma central de abastecimento de drogas para a Cracolândia, tinha uma estrutura organizada para o tráfico de drogas. O relatório da investigação descreve o esquema:
- Tráfico e Logística: Os criminosos usavam as "torres do Moinho" para armazenar drogas e armamentos. O transporte dos entorpecentes era feito por "carroceiros" da própria comunidade, que escondiam a droga em meio a materiais de reciclagem. 
- Lavagem de Dinheiro: Os lucros do esquema eram lavados através de uma rede de hotéis na região da Cracolândia, que eram controlados pela família Moja. Os hotéis funcionavam como depósitos para o tráfico e para a exploração da prostituição, sem qualquer regulamentação municipal. A polícia encontrou R$ 5 mil em espécie em um dos locais, junto a comprovantes da rede hoteleira, o que reforça os indícios de lavagem de dinheiro. 
A operação policial ocorre em um momento em que o governo de Tarcísio de Freitas tenta remover as famílias da favela para a implementação de um parque. O governo estadual assinou um acordo com o governo federal que prevê que cada família tenha direito a um imóvel ou a um auxílio-aluguel de R$ 1.200 durante a transição. Até esta sexta-feira (5), 537 famílias já haviam sido reassentadas. O caso da Favela do Moinho e a prisão de Alessandra Moja mostram a dificuldade de se combater o crime organizado, que se utiliza da negligência do estado para se infiltrar e se fortalecer em comunidades vulneráveis.


