Moraes Inicia Julgamento do Golpe com Discurso Duro sobre Impunidade, Coação e Soberania Nacional
O relator do processo, ministro Alexandre de Moraes, afirmou que a pacificação do país não pode ser confundida com impunidade e criticou a tentativa de submeter a Justiça ao crivo de outro Estado.
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Em uma manhã histórica, o ministro Alexandre de Moraes abriu o julgamento da trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF) com um discurso contundente que mandou recados claros para os acusados e para seus aliados. Moraes afirmou que a pacificação do país não pode ser confundida com impunidade, e que o caminho mais fácil do "apaziguamento" corrói a democracia. Sem citar nomes, o ministro também criticou a tentativa de "coação" e a "traição" de se tentar submeter a Corte ao crivo de outro Estado, em uma clara referência às ações do deputado Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos.
Em sua fala inicial, Moraes rebateu o argumento de que a pacificação do país exige anistia ou o arquivamento de processos. Para o ministro, a verdadeira pacificação depende do "respeito à Constituição, da aplicação das leis e do fortalecimento das instituições". Moraes afirmou que a história ensina que "a impunidade, a omissão e a covardia não são opções para a pacificação".
Ele disse que a impunidade deixa "cicatrizes traumáticas na sociedade" e "corrói a democracia", como o passado recente no Brasil demonstra. O ministro defendeu que o Supremo está cumprindo seu papel de aplicar a lei de forma imparcial e que o julgamento segue um rito normal, que foi o mesmo de outras 1.630 ações relacionadas à tentativa de golpe de Estado.

Moraes foi direto em suas críticas às pressões externas e internas que a Corte tem recebido. Ele afirmou que uma "organização criminosa" tem agido de forma "covarde e traiçoeira" para tentar "coagir" o Supremo no julgamento. Em um trecho de seu discurso, Moraes disse que a tentativa de "submeter o funcionamento da Corte ao crivo de outro Estado" é um ato inaceitável.
"Essa coação, essa tentativa de obstrução, elas não afetarão a imparcialidade e a independência dos juízes desse Supremo Tribunal Federal", garantiu o ministro, que também ressaltou que a "soberania nacional não pode, não deve e jamais será vilipendiada, negociada ou extorquida".
O discurso de Moraes é uma resposta clara às críticas de aliados de Jair Bolsonaro sobre a celeridade do processo. O ministro reafirmou a independência e a imparcialidade da Corte, dizendo que o julgamento será conduzido sem qualquer ingerência interna ou externa, com total respeito à defesa e ao contraditório. A leitura de seu relatório, que durou 1h27, demonstrou a profundidade da análise do caso e a seriedade com que a Corte está tratando o julgamento.


