Bastidores do Julgamento do Golpe: Microfones Abaixados, Broncas e Indiretas Marcam Voto de Fux no STF

Com o placar de 2 a 0 pela condenação de Bolsonaro, o ministro Luiz Fux votou pela anulação do processo em uma sessão marcada pelo silêncio de seus colegas e por discursos com indiretas ao relator Alexandre de Moraes.

NACIONAL

Rafael Monteiro

9/10/20252 min read

a man in a suit and tie is sitting at a table
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O quarto dia do julgamento da trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF) foi marcado por mais do que apenas um voto. O voto do ministro Luiz Fux, que pediu a anulação de todo o processo, foi acompanhado de um drama de bastidores, com microfones abaixados, broncas a parlamentares e indiretas a colegas. A sessão, que tem o placar de 2 a 0 pela condenação dos réus, mostra a tensão e a complexidade de um dos julgamentos mais importantes da história do país.

O voto de Luiz Fux foi recebido com um silêncio eloquente dos outros ministros. De forma incomum, os microfones de Alexandre de Moraes, Flávio Dino e Cármen Lúcia foram abaixados, em um sinal claro de que não fariam interrupções. No entanto, o silêncio não impediu Fux de mandar indiretas ao relator. O ministro fez inúmeras menções à importância de um juiz ser "equidistante" das partes e, em um momento, olhou para Moraes ao dizer que estava evitando citar nomes, pois achava "desconfortável e deselegante". As indiretas e o silêncio de seus colegas mostram que a tensão no plenário está alta.

A rigidez do julgamento também se estendeu aos parlamentares que assistiam à sessão. Dois deputados federais, Rogério Correia (PT-MG) e Otoni de Paula (MDB-RJ), foram repreendidos por seguranças por usarem seus celulares na sala do plenário. As regras do tribunal proíbem o uso de celulares e o registro de imagens, e os seguranças se mantêm atentos para garantir que elas sejam cumpridas. O episódio mostra a seriedade e a formalidade do julgamento, que não admite manifestações de qualquer tipo.

Apesar do drama de bastidores, o voto de Luiz Fux foi o ponto central da sessão. O ministro divergiu de Moraes e Dino, que votaram pela condenação de Jair Bolsonaro e dos outros sete réus. Fux defendeu a anulação do processo com três argumentos principais: a incompetência do STF para julgar o caso, que, segundo ele, deveria ter sido enviado à primeira instância; a incompetência da Primeira Turma, que, na sua visão, não tem autoridade para julgar um ex-presidente; e o cerceamento de defesa da parte dos réus, que não tiveram tempo hábil para analisar o "tsunami de dados" da investigação.

Apesar de seu voto pela anulação, Fux defendeu a validade da delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. O voto do ministro, que surpreendeu muitos, pode mudar os rumos do julgamento e criar uma nova narrativa para a oposição.