Análise dos Fatos: Tensões comerciais entre Brasil e EUA

Com tarifas abusivas e declarações provocativas, Washington tenta enquadrar o Brasil. Mas quem paga o preço dessa disputa são trabalhadores e setores produtivos inteiros.

ANÁLISE DOS FATOS

Eduardo Borges

9/28/20254 min read

Foto de Trump e Lula lado a lado na ONU
Foto de Trump e Lula lado a lado na ONU

O secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, declarou em entrevista que o Brasil precisa ser “consertado” para não atrapalhar os interesses americanos. A fala se soma à política agressiva de tarifas do governo Trump, que já afeta setores estratégicos da economia brasileira.

O comentário veio poucos dias depois do encontro entre Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Ambos devem se reunir novamente nesta semana para discutir medidas comerciais, mas a retórica de Lutnick aumentou a pressão sobre Brasília.

Contexto histórico

A relação entre Brasil e Estados Unidos sempre foi marcada por assimetrias. Desde a década de 1980, Washington tem usado tarifas e barreiras comerciais para proteger sua indústria, enquanto exige abertura dos parceiros. Essa lógica se intensificou no governo Trump, que aposta em políticas protecionistas para satisfazer sua base eleitoral.

No caso brasileiro, a dependência de exportações de commodities e produtos industrializados deixa o país vulnerável. A sobretaxa de 50% sobre bens nacionais, anunciada em julho, ecoa antigas disputas comerciais travadas contra o Japão e a União Europeia. A diferença é que, no mundo globalizado de hoje, os impactos se espalham mais rápido e de forma mais profunda.

Desde agosto, produtos brasileiros enfrentam tarifas extras ao entrar nos EUA. A nova rodada, prevista para outubro, pode elevar cobranças a até 100% sobre medicamentos, móveis e caminhões pesados. O Brasil foi colocado no mesmo grupo que Índia e Suíça, tratados como países que “precisam reagir corretamente” às exigências americanas.

Enquanto Trump mantém discursos ambíguos — acenando cordialidade a Lula, mas reforçando barreiras —, a retórica de seus secretários intensifica a percepção de que o Brasil é visto como alvo de pressão econômica. A ameaça é clara: ou Brasília se adapta às condições impostas ou corre risco de isolamento.

Impacto social e econômico

Os setores mais atingidos são aço, alimentos processados, móveis e produtos industriais. Empresas exportadoras já relatam perda de contratos e incerteza sobre novos negócios. Trabalhadores desses setores sentem diretamente o risco de demissões e redução de renda.

Além das exportações, o efeito indireto pesa no bolso da população. Insumos importados mais caros significam pressão inflacionária, encarecendo desde medicamentos até produtos básicos. O conflito comercial se transforma em um problema doméstico, reduzindo poder de compra e ampliando desigualdades.

  • Desde agosto, produtos brasileiros pagam sobretaxa de 50% ao entrar nos EUA.

  • A partir de outubro, tarifas podem variar entre 25% e 100% em setores estratégicos.

  • O déficit dos EUA com países como Suíça ultrapassa US$ 40 bilhões — usado como justificativa para as medidas.

  • O Brasil figura entre os dez países mais impactados pelas barreiras impostas pelo governo Trump.

Próximos passos

O encontro entre Trump e Lula será crucial para definir os rumos da relação. Caso não haja acordo, o Brasil pode recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) para contestar as tarifas. O risco, porém, é entrar em uma disputa prolongada contra a maior economia do planeta, que frequentemente ignora decisões multilaterais quando não lhe convêm.

Enquanto isso, diplomatas do Itamaraty buscam alternativas de diversificação comercial, ampliando relações com União Europeia, China e países do Sul Global. Essa pode ser a única saída para reduzir a dependência do mercado americano.

Exportações brasileiras afetadas por tarifas dos EUA
Exportações brasileiras afetadas por tarifas dos EUA
Análise dos Fatos


As declarações sobre o Brasil precisar ser “consertado” mostram o quanto os conflitos comerciais Brasil-EUA se tornaram um instrumento de pressão política. Não é só economia: é também geopolítica, onde Washington trata parceiros como peças de tabuleiro a serem ajustadas ao seu gosto.


Quem mais sofre são os trabalhadores brasileiros. Cada tarifa que dificulta exportações ameaça empregos em siderúrgicas, fábricas de móveis, indústrias alimentícias. Ao mesmo tempo, insumos mais caros significam medicamentos inacessíveis e bens de consumo inflacionados, atingindo principalmente os mais pobres.


Esse movimento expõe a fragilidade de uma economia que depende quase exclusivamente de exportação de commodities e produtos de baixo valor agregado. A pressão externa encontra solo fértil porque o Brasil não conseguiu, ao longo de décadas, construir um modelo industrial soberano e menos vulnerável a chantagens.


A saída para os conflitos comerciais Brasil-EUA não está em aceitar imposições de Trump, mas em fortalecer o mercado interno e diversificar parcerias externas. Políticas industriais que apostem em tecnologia, inovação e integração regional são fundamentais. Ao mesmo tempo, o Brasil deve usar instrumentos multilaterais, como a OMC, não para se curvar, mas para expor a hipocrisia do protecionismo seletivo americano.


O GFattos reafirma: não há soberania sem independência econômica. O Brasil não precisa ser “consertado” por Washington, precisa ser fortalecido por sua própria gente. E isso só acontecerá quando a prioridade for trabalhadores e não tarifas impostas de fora.

E você, acredita que o Brasil deve enfrentar os EUA na OMC ou buscar alternativas fora da órbita americana?